top of page

Analisar a conjuntura é entender a correlação de forças entre as classes sociais

  • encontraponto
  • 26 de mai.
  • 2 min de leitura

As análises de conjuntura de vários grupos de esquerda muitas vezes assumem um caráter meramente jornalístico. Pior, incorporam uma visão economicista: pressões inflacionárias ou queda no consumo interno, por exemplo, traduzidas em indicadores, passam a ser utilizadas para explicar a tomada de uma posição política deste ou daquele governante.


Um indicador econômico-social jamais deve ser tomado, para quem raciocina em termos de luta de classes, como base para a tomada de uma posição política. A motivação tem de ser política e se manifestar politicamente na realidade, isto é, no tempo e no espaço deste ou de outro país. Foi o que aconteceu nos EUA na segunda semana de abril de 2025, quando o tarifaço sofreu uma amplo questionamento da "classe média", ou seja, da pequena-burguesia norte americana. A mobilização nacional nos protestos em grandes e pequenas cidades dos 50 estados da federação ofereceu um pretexto para a retomada da influência da oposição democrata. No jornal O  Globo, de 13 de abril de 2025,  menciona-se a iniciativa de 150 grupos, como Hands Off, Swing Left e Mete Egerman, dentre outros, provavelmente com a participação de ativistas do Partido Democrata. A perda da popularidade de Trump foi imediatamente percebida como uma ameaça pelo Partido Republicano. Logo em seguida, Trump excluiu smartphones, chips e computadores das tarifas recíprocas. 


Essa observação tem, por outro lado, uma dimensão teórica que merece ser ressaltada: os conflitos de classe, na medida em que se expressam por meio da política e, logo, do Estado, como no caso assinalado, podem envolver exclusivamente frações da burguesia. Interessa-nos, contudo, chamar a atenção para o fato de que os conflitos entre essas frações, por sua vez, têm um significado geral, para o conjunto da sociedade, muitas vezes sobredeterminando o sentido da contradição fundamental entre burguesia e proletariado. Acontece principalmente quando o proletariado sofreu uma derrota política e se encontra desorganizado, pois então, a pequena-burguesia tende a apresentar-se como "representante" do povo e inclusive falar em nome do proletariado, mas de acordo com os seus próprios interesses. 


Nesse sentido, o estudo "As lutas de classe na França, de 1848 a 1850" de Karl Marx constitui uma importante referência teórica. Até mesmo para entender o que se passou no Brasil, 140 anos depois, na derrota de Lula para Collor na eleição presidencial de 1989, quando a pequena-burguesia democrática - que controlava o Partido dos Trabalhadores e influenciava a Central Única dos Trabalhadores - declarou oficialmente, em 1991, o  abandono do "radicalismo" das manifestações de massa e greves gerais em troca da opção pela simples participação eleitoral. Um dos dirigentes disse nessa época ter sido a escolha pela socialdemocracia. Mas essa é uma outra história que não cabe no escopo deste texto. [1] 



Nota


[1] A quem interessar: o tema fez parte do último debate da Política Operária, antes de sua dissolução no PT; está disponível no acervo do Centro de Estudos Victor Meyer.


Imagem de capa: jornal O Globo, em matéria citada no texto

Fique por dentro de todos os posts

Obrigado por assinar!

bottom of page