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As Big Techs e a regulação da Inteligência Artificial

Publicamos a seguir duas matérias recentes sobre a posição dos dirigentes máximos ou CEOs ( Chief Executive Officer) das gigantes da tecnologia digital nos Estados Unidos: uma notícia e a avaliação de Luciano Floridi, um filósofo da Universidade de Bolonha e de Oxford a respeito da regulamentação da Inteligência Artificial. Floridi acredita que a lei deve incidir nos produtos, sobre o que a I.A. é usada. Para conhecer o ponto de vista do autor veja-se a entrevista concedida à revista Negócios.


A possibilidade de conferir outra direção para o desenvolvimento tecnológico baseada na premissa de regulamentar os produtos, aventada por Floridi, deixa de lado a impossibilidade de promover, por este meio, o controle dos big data e das conexões universais, de controlar a tecnologia interposta às outras tecnologias. Por outro lado, a ideia de que o desenvolvimento dessa tecnologia possa ser legalmente regulamentada suscita a crença de que o Estado (no sentido amplo, da unidade dos poderes executivo, legislativo e judiciário) possa se colocar acima e neutralmente face aos interesses de classe que precisam ser acomodados e garantidos. E de que o sistema capitalista continue avançando, com essa regulamentação.


Ainda assim acreditamos ser importante divulgá-las como parte de um processo de lutas que supõe a intervenção das forças do trabalho numa perspectiva de classe e da futura conquista do poder político.



Em reunião sobre IA, Zuckerberg e Gates discutem sobre rumo da tecnologia para os próximos anos - Matéria da revista Exame


Maioria dos executivos presentes concordou que é preciso regular a inteligência artificial no país.

Magnatas de empresas de tecnologia dos EUA participaram nesta quarta-feira, 13 de setembro, de um encontro no Senado americano para discutir aspectos do avanço da inteligência artificial (IA) com advogados e com membros da sociedade civil. No evento, fechado para o público, Elon Musk, Sam Altman, Mark Zuckerberg, Bill Gates e Sundar Pichai foram alguns dos que opinaram – e discordaram – sobre os caminhos da tecnologia para os próximos anos. Reunidos em uma das salas históricas do Senado americano, debateram sobre o rápido desenvolvimento de ferramentas que utilizam IA e em como a tecnologia poderia adquirir maior escala em um futuro próximo. O encontro, comandado pelo senador Chuck Schumer (Partido Democrata) e batizado de A.I. Insight Forum, também abordou aspectos de regulação da IA com os empresários. De acordo com o jornal americano The New York Times, a maioria dos executivos presentes concordou que é preciso regular a IA nos EUA, mas nem todos concordaram sobre como deve ser o protocolo de desenvolvimento da tecnologia daqui para frente.

Zuckerberg, por exemplo, defendeu o protocolo de código aberto para que todas as pessoas tenham acesso aos códigos-fonte dos sistemas de IA; Bill Gates, porém, demonstrou preocupação com a transparência que isso pode significar em termos de segurança. Pichai, Altman e Jack Clark, CEO da Anthropic, concordaram com o fundador da Microsoft.

A lista de comparecimento, em uma grande mesa colocada na frente da sala, foi uma reunião rara de executivos de Big Tech. Entre os presentes estavam Elon Musk, CEO do X/Twitter, Sam Altman, CEO da OpenAI, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, Sundar Pichai, CEO do Google, Bill Gates, fundador da Microsoft, Satya Nadella, CEO da Microsoft e Jensen Huang, CEO da Nvidia. Ao todo, 22 pessoas foram convidadas, entre pesquisadores e executivos.

Desdobramentos

Segundo o The New York Times, a reunião a portas fechadas durou três horas e, embora não seja possível saber se alguma resolução foi levada adiante, pessoas que estiveram presentes afirmam que os executivos puderam explicar suas visões sobre IA e defender suas próprias agendas empresariais no setor.

As conversas passaram pelas possibilidades da IA desde o estouro do ChatGPT, robô de conversas desenvolvido pela OpenAI e lançado no final do ano passado. "Essa é a questão mais difícil que o Congresso está enfrentando porque a IA é muito complexa e técnica", disse Schumer em uma entrevista.

"Todos nós compartilhamos os mesmos incentivos para fazer isso da maneira certa", disse Altman após a reunião realizada no prédio do Senado. Para Pichai, do Google, o evento foi produtivo, mas enfatizou a necessidade de um equilíbrio do "lado da inovação e a criação das salvaguardas certas" pelo governo americano.

O senador Chuck Schumer estima que pelo menos mais um desses encontros possa acontecer até o final do ano, desta vez, com acesso aberto a ouvintes, e que a primeira reunião foi a portas fechadas apenas para "encorajar" as falas dos executivos sem o escrutínio do público.



Ética digital: uma entrevista com Luciano Floridi - Publicado na Future Medicine AI-Hub

"Altman, o CEO da OpenAI, assim como muitas dessas pessoas, está preso em sua bolha e não tem ideia do que está acontecendo no resto do mundo. Quero dizer, é notícia que a Austrália começou um processo de desenvolvimento de sua própria legislação sobre IA. Mas o AI Act na Europa está em andamento há anos. Antes de sair por aí dizendo que vocês precisam nos legislar, apenas lembrem-se de que nós, como sociedade, como humanidade, já estamos criando essa legislação há anos, já estamos quase no fim do processo de ter uma legislação robusta e um quadro legal sobre IA. Qual é a mensagem aqui? Não é apenas que essas pessoas, quando falam, estão desinformadas. Bem, isso acontece. Eu sou um filósofo. É importante saber que você não sabe, então talvez eles devessem saber que não sabem. Mas acho que há mais nisso. E o mais importante é sobre ser enganador, tentando, de fato, gerar confusão para postergar aquilo que eles não querem que aconteça – exatamente a legislação. A primeira reação que Altman teve quando soube sobre o AI Act sendo implementado foi: 'Oh, se isso passar, vamos sair da Europa. Essa é uma legislação com a qual não podemos lidar.' Isso mostra muita hipocrisia. Uma vez que você começa a remover a hipocrisia, os aspectos desinformados, o engano, o que resta é muita relações públicas, muito barulho e distração. E esse é o último ponto que quero destacar. Se tudo isso fosse apenas uma distração e barulho, poderíamos lidar com isso. É mais do que isso. É irresponsável, porque significa chamar a atenção para algo que já está acontecendo como se não estivesse, gritando sobre riscos que não podem ser vistos em nenhum lugar em qualquer ciência e tecnologia que estamos desenvolvendo hoje, como se fossem cenários de ficção científica, enquanto esperam que, com todo esse barulho e neblina, as questões reais que acabamos de descrever desapareçam – a divisão digital, o consentimento informado, o uso indevido de dados, o viés nos algoritmos, etc. Agora, essa é uma estratégia pobre, mas até agora muito bem-sucedida. Eles conseguiram distrair a conversa e nos levar para uma área em que discutimos cenários de ficção científica e uma legislação que um dia virá. Está chegando hoje e eles devem cumprir." (Luciano Floridi)


*Imagem de capa: site https://justiceandtechnology.com/

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