top of page

Em meio à guerra comercial, a consolidação da China como potencia capitalista

  • encontraponto
  • 22 de abr.
  • 3 min de leitura

Eduardo Stotz 


A imagem de capa da presente matéria foi entendida por bilhões de pessoas em todo o planeta, destinando a tornar-se icônica enquanto atitude de insubordinação da China à prepotência dos EUA e de seus aliados na “guerra comercial”. [1] Lembremos que as retaliações recíprocas alcançaram a taxa de 145%.


O dedo levantado de Xi Jinping consiste no gesto professoral de ensinar aos norte-americanos e ao mundo uma lição da história recente sobre o papel da China como oficina industrial do mundo durante décadas: o alegado comércio “injusto” de Trump não passa de uma falácia, uma vez que a estabilidade econômica mundial e o padrão de vida mais alto da pequena-burguesia em uma parte dos países do sistema capitalista, propiciados por esse papel da China, permitiu a quase ilimitada expansão do capital financeiro. E, como o China Daily , orgão do Partido Comunista Chines (PCCh) em língua inglesa observou, a economia norte-americana, assim organizada, cresceu sem a devida produtividade do trabalho para sustentá-la. Em publicação anterior, ressaltamos a pretensão de Trump de ignorar o dogma liberal vigente no comércio internacional desde David Ricardo, baseado na produtividade do trabalho. Acrescentamos, nos termos de Marx, a intensidade e o prolongamento da jornada do trabalho, ou seja, o aumento da exploração da força de trabalho, a mais-valia.


Para culminar, o pronunciamento e a recusa chinesa em aceitar o tarifaço foi acompanhado de uma iniciativa diplomática destinada a isolar os EUA: em carta dirigida a 193 países membros da ONU, o governo da China convocou uma reunião do Conselho de Segurança para abordar a guerra comercial desencadeada pelos EUA tratando-a como "ameaça à paz e ao desenvolvimento". A reunião estaria agendada para 23 de abril.


Nesse contexto, uma parte da esquerda comunista aferra-se à ideia de que a China não é um país imperialista. [2] Muitas vezes, significa apenas a tomada de posição contra o imperialismo norte-americano, agressivo e ainda hegemônico, com uma vasta folha corrida de crimes lesa-humanidade. Na prática, contudo, tal posicionamento abandona a intervenção sobre o conflito essencial entre capital e trabalho vigente no sistema capitalista do qual o imperialismo é, como disse Lenin, a fase mais avançada.


Por isso, não devemos ficar presos à crônica dos fatos da conjuntura sem a devida consideração das relações de classe nos países e de sua projeção na disputa interimperialista entre diferentes países.


Interessa-nos sobretudo saber como a China está enfrentando a política imperialista da “guerra comercial” de Trump do ponto de vista das relações sociais capitalistas na China. Esse foi o intento do artigo de Xulio Ríos, que aqui reproduzimos. Apesar de ser uma análise orientada pela ótica liberal burguesa, a qual sempre ignora a importância fundamental da força de trabalho na produção da riqueza nacional, o texto traz algumas informações e elementos importantes para nosso entendimento. 


Sob o título “La otra economia privada”, Xulio Ríos, assessor emérito do Observatório da la Política Chinesa, aponta que as empresas privadas representam 60% do PIB e mais de 70% das inovações tecnológicas realizadas. A disputa com os EUA no campo da tecnologia e a necessidade de retomar o crescimento econômico após a pandemia de Covid-19 levaram o PCCh a fortalecer a economia privada (capitalista) chinesa, a par de prosseguir no intento de controlá-la. Para ler o artigo clique aqui.




Notas


[1] O uso da palavra “guerra”, cunhado pela grande mídia norte americana, tem o sentido de confronto econômico, seguido de vitória de um dos lados envolvidos, em longo processo que pode incluir empate e acordo. Serve também para advertir sobre a possibilidade da guerra no sentido literal, ou seja, militar.


[2] Um exame dos investimentos diretos de empresas como a BYD chinesa no Marrocos, competindo com os interesses das empresas alemãs e francesas instaladas naquele país há mais tempo, é suficiente para demonstrar a falácia de tal posição. Ver a respeito aqui.


Imagem de capa: Revista Veja

Fique por dentro de todos os posts

Obrigado por assinar!

bottom of page